sexta-feira, janeiro 21

O SABOTADOR

sexta-feira, janeiro 21
Se me rendi aos Realitys?

Digamos que estou de refém. Acompanhando por comentários de rede sociais, muito mais do que assistindo realmente. Não decorei nomes e muito menos sei quem é o que ou pretende fazer. Vi uma bundinha ou outra gostosa. Um bando de marmanjo pronto pra guerra. Percebi que a ordem é ir para cima e divertir o povo.
Como?

Basicamente com insinuações sexuais, poses, músculos e rastilhos de pólvora espalhados prontos para uma explosão. É o que funciona. Também gosto muito.

Todavia, entendo que o Reality seja um jogo puramente psicológico e tem perfis pré-determinados muito claros. Nem preciso me aprofundar nessa questão. A grande maioria que enxerga mais do que o óbvio já sabe.

É uma oportunidade de sair do anonimato, uma chance de ganhar um bom dinheiro, mas deveria servir também como utilidade nas reflexões sociais, afinal, é um jogo de sociedade. Quando paro para assistir, é o que busco. Refletir sobre certos comportamentos humanos. Um laboratório de onde inclusive já fui um rato.

A proposta do novo BBB é interessante.

Mexe bastante com o nível de ganância dos competidores. Ganância essa que até hoje não entendi porque não esta na lista dos pecados capitais. Temos a mãe de todos, a regente maior – Vaidade – aquela que fomenta e semeia a discórdia em troca de aprovação. Mas a ganância é sem dúvida um pecado mortal, seria a Luxúria material. E num sistema que induz o tempo todo a ostentação, o TER sempre será muito mais apreciado do que o ser. Quem pretende SER antes de ter é taxado de hipócrita, falso moralista e dentre outros adjetivos.

Pois bem.

Não sei quem inventou o SABOTADOR no BBB11, mas foi um gênio.

Legal é ver o povo torcendo para que o sabotador prospere e consiga fuder o grupo sem ser pego. Bacana é perceber como as pessoas se identificam com esse personagem e como imaginam o que fariam se estivessem nesse lugar, dentro do jogo sem perceber que provavelmente já o fazem na vida real.

O Sabotador é a figura que precisa prejudicar seu grupo sem ser identificado. Para isso ele receberá 10 mil reais. Digamos que uma propina bem pequena para o nível de problemas que pode ter no risco de um fracasso por incompetência ou de sucesso por esperteza. Mas que compra facilmente o indivíduo ao qual o público dá este papel.

Para muitos telespectadores não passa pela cabeça, dentro do pensamento padrão, o jogador recusar este movimento e manter sua integridade. Talvez seja tão normal sacanear os outros que não seja Possível imaginar que alguém possa se recusar a tal atitude. Se não oficialmente se colocando contra o OBSERVADOR MAIOR, discretamente se auto-sabotando na missão em prol apenas da honestidade.

Já vejo pedras sendo arremessadas em minha direção.

Você faria isso?

É apenas um jogo!

Poderia enumerar uma série de insultos que receberei por pensar assim, mas eles já são tão repetidos que não me prestarei a ocupar mais espaços com eles.

Onde esta escrito que o indivíduo não pode se recusar a participar dessa forma?

Me pergunto: existe alguma regra que obrigue o jogador a tomar tal decisão?

Que tenha observado é uma decisão individual, regida pelo desejo do dinheiro.

Quando postei esta questão no Twitter choveu gente dizendo que 10 mil é muita grana e que muitos daqueles participantes é de família humilde ou não tem condições financeiras que garantam uma recusa. Foi quase como se dissessem que se alguém é pobre ou esta em situação difícil na vida, não precisa ter discernimento para se corromper. Não importa o valor.

São valores escassos no Brasil dos corruptos e corruptores.

Quem nunca se corrompeu ou corrompeu alguém?

Um guarda, um porteiro, um garçom, um informante, uma autoridade qualquer?

Eu mesmo já tive que dar cinquenta reais certa vez a policial numa Blitz “beneficente”, segundo a palavra do próprio xerife, para não ter meu carro apreendido numa época em que não tinha dinheiro nem para comer e meu automóvel se encontrava há seis anos com o IPVA vencido. Foi a única vez na minha vida, mas conta!

De lá pra cá amadureci bastante. Repensei muitas coisas. Até onde o estado me incentiva a ser criminoso e onde as leis estão corretas. Por que preciso cumprir certas regras com quais não quero compactuar nem amarrado? Qual é o limiar em que posso dizer: Foda-se, “isso é problema meu” e a legislação não poderá me impedir se eu não estiver esbarrando no direito de outra pessoa ou prejudicando alguém, e quando isso é anti ético.

O que é ética afinal?

A Moral muda conforme os interesses de quem comanda. A ética não. Porém a ética de uma cadeia é diferente da ética de uma Universidade. Não é por acaso que seja tão complexo e que existam cadeiras diversas estudando o conceito quando se aprofunda em filosofia no estudo de tal comportamento.

Mas voltando ao sabotador, será que é tão difícil perceber que o programa esta “brincando” exatamente com o nosso senso de honestidade?

Logo nós, que cobramos tanto dos políticos que sejam leais, que mantenham uma conduta razoável, que não sejam CORRUPTOS, nos deixamos levar por um estímulo tão mesquinho?

Será que estou tendo alucinações ou estar 24 horas por dia, sete vezes por semana na casa das pessoas, de uma parcela grande de brasileiros que se diverte com esses realitys e se identifica com o comportamento daqueles que lá os representam, não vale uma reflexão sobre tal responsabilidade?

Muita gente reclama, com razão por diversas vezes, do nível intelectual de certos participantes e do que rende de inutilidades para o povo este tipo de programa. Porém, se observarmos com um pouco mais de boa vontade e cautela, perceberemos que é Possível retirar deste entretenimento muitas questões importantes. O Reality show é um retrato bem fiel de nossa sociedade. Existem muitos profissionais competentes, psicólogos e estudiosos por trás de um programa desses. É um belíssimo laboratório da raça humana cujo o combustível é a ganância e o desejo de ter o reconhecimento público.

O que se faz lá dentro é reflexo do que se faz e se aprende aqui fora.

Vale tudo realmente para ficar milionário?

Será que é dentro de um jogo desses, valores e princípios devem ser esquecidos em nome da fama e da grana?

Que tipo de atitudes nós esperamos de quem participa de um negócio desses?

Com quais destas atitudes nós compactuamos na vida e real e nos identificamos no decorrer do jogo.

A vida não é um jogo também?

Para mim, o SABOTADOR é só mais uma prova do quanto é barato corromper e comprar um indivíduo.

É lógico que vence apenas um no BBB, na Fazenda ou em qualquer desses Realitys, mas o vencedor não consegue superar seus concorrentes sem passar por cima dos outros? É tão complicado assim?

Pense nisso.

Por trás de toda grande fortuna existe SEMPRE algum crime?

Tico Santa Cruz

1 Estrelas:

Laurênia Lavôr disse...

Não me rendi a realitys, não sou refém de nada muito menos! :)
Apenas gostei bastante do texto e rebloguei!
Se pararmos para analizar é bastante inteligente. ;)

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