terça-feira, outubro 11

A alma ferida

terça-feira, outubro 11

Para muitas pessoas, o passado é uma grande ferida. Elas anelam pela liberdade, mas não conseguem libertar-se das garras da sua história sofrida. E uma das piores formas de escravidão é viver sob o jugo de um passado marcado por lembranças traumáticas.
É como tocar um corpo cheio de feridas abertas. Qualquer toque é uma experiência de dor. Qualquer lembrança é uma lágrima revivida.
Entre as muitas feridas que fazem a alma sofrer, três são muito profundas: a dor da rejeição, a da traição e a da mentira. Quando não superadas, elas evoluem rapidamente de feridas emocionais a tumores na alma, com alto poder de metástase, afetando áreas vitais da existência, destruindo a liberdade, a felicidade e os sonhos.

A rejeição é uma ferida que precisa ser sarada. Ela produz insegurança, medo, frustração e complexo de inferioridade. Não há como mensurar a dor de uma pessoa que se sente rejeitada, sobretudo por alguém que ela julgava especial. Ela se sente um nada. Essa terrível dor tem marcado o coração de muitos filhos, ante a separação dos pais; de muitos pais, na solidão da velhice; de muitas mulheres, ao verem o marido abandonar o lar, indo parar nos braços de outra.

A dor da traição é outra coisa terrível. Ela é silenciosa e insuportável, afeta a autoestima, produz revolta e desejo de vingança. Geralmente, a resposta à traição é outra traição, que é uma forma disfarçada de autoagressão. Quando uma pessoa age assim, fere a si mesma e aumenta a sua própria dor. Como é dito no Salmo 42.7, um abismo, chama outro abismo.
Toda pessoa traída se enche de culpa e revolta, e acaba expondo a sua existência a uma grande enfermidade emocional: a amargura. Pessoas amarguradas perdem a visão de novos horizontes por viverem presas a um passado sombrio. A superação da traição envolve o perdão e o amor próprio. Perdoando, somos libertos; amando a nós mesmos, podemos amar outra vez e sonhar com novos dias.

A mentira produz também os seus males. E quanto mais próximo for o mentiroso, mais aumenta a dor de quem se sente enganado. Assim, a mentira contada por um dos pais, um irmão ou um cônjuge, uma pessoa amada, sempre dói muito mais. Quanto maior for a proximidade de quem engana com quem é enganado, tanto maior será a ferida no coração. A dor do engano produz desconfiança, insegurança, revolta e isolamento. É como se uma porta, em nós, fechasse-se para a vida.
Como então tratar as feridas da alma? O remédio está na combinação de três fatores que interagem terapeuticamente: a força do tempo, a experiência do perdão e a graça divina. O tempo ameniza a nossa dor, o perdão nos liberta do passado sombrio, e a graça divina nos fortalece e faz-nos sonhar outra vez.


Estevam Fernandes
Psicólogo, Sociólogo e Pastor da Primeira Igreja Batista.

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